Descrição enviada pela equipe de projeto. Um refúgio campestre. Este era o sonho do jovem casal com filhos, quando nos procurou para projetar os interiores de sua casa de campo, ainda em 2019. Clientes de longa data do escritório, exprimiram desde o início o desejo por um espaço aconchegante, que dispusesse das mesmas comodidades de sua morada na cidade, mas que propiciasse outras vivências sensoriais e estéticas, priorizando uma interação mais direta com a natureza.
Sob o advento da pandemia, esse desejo fortaleceu-se e traduziu-se na busca por leveza e tranquilidade em cada um dos ambientes. Adotou-se, então, uma paleta neutra que ditou todo o décor da residência. Evitando qualquer elemento em cor – para não comprometer a aura de paz que se pretendia acentuar –, a abordagem de projeto concentrou-se em explorar distintas formas, enquadramentos e plasticidades, sobretudo a partir do uso de materiais naturais.
Como em um exercício compositivo complexo, a definição do layout interno, a paginação do piso, o desenho da marcenaria e a curadoria de mobiliário e obras de arte foram meticulosamente costurados, para que o partido neutro do projeto não resultasse em monotonia – pelo contrário, viabilizasse experiências sinestésicas estimulantes. Enfatizou-se amplamente o tato, por meio da variação de textura entre os materiais empregados, desde os distintos acabamentos da madeira e da pedra natural (em seus estados mais rústicos ou mais polidos, a depender do uso), até a variedade de toque entre palhas, linhos, couros, tecidos aveludados e elementos em cerâmica ou argila.
A visualidade tampouco foi negligenciada. As peças de design selecionadas buscaram compor uma decoração elegante e ousada, mobilizando distintos períodos da história do mobiliário e perscrutando variações volumétricas – a exemplo da área de lounge, na qual a disposição de quatro poltronas com diferentes linguagens enriquece a percepção visual e confere originalidade ao espaço. Ademais, lançou-se mão de alguns recursos arquitetônicos para criar perspectivas interessantes do projeto, como a concepção do painel em madeira ebanizada que cria um invólucro para o bloco de serviços, serve de fundo cênico para o volume da escada, emoldura o nicho da adega e ainda faz adentrar a cor preta, fortemente presente nas fachadas da casa.
O amplo jardim também era uma exigência da família, como espaço de lazer por excelência para os dias passados no campo. Nesse sentido, o paisagismo deveria ser o mais natural possível, com vasta área gramada, espécies nativas e a impressão “de que sempre estivera ali”, nos termos da proprietária. Sentindo falta de uma área de estar ao ar livre, onde se pudesse sentir o Sol, o vento, a chuva – face à ausência de varandas na casa principal –, os clientes incumbiram ao escritório o desafio de projetar um anexo para atender a essa necessidade.
Para tal feito, nossas preocupações iniciais foram, por um lado, assegurar que o volume proposto não obstruísse a vista para o lago ao fundo do lote, e por outro, que a sua forma não disputasse com o desenho da casa principal, mas que tampouco representasse uma mera réplica diminuta da estrutura desta. Projetou-se, portanto, um anexo horizontal, com estrutura leve e beirais – características que remetem à visualidade da residência –, implantado no alinhamento do living principal, para garantir a coesão entre os elementos construídos no terreno.
A estrutura proposta divide-se em dois volumes, tendo entre eles a piscina, de maneira a setorizar os espaços entre área de estar e gourmet, e área de SPA. Contudo, a criação de uma cobertura única, que transpassa a piscina com leveza, reforça a horizontalidade do conjunto, tendo absoluto cuidado para não implicar um sombreamento indesejado desse espaço de lazer.
Explorando materialidades e elementos de fechamento distintos, o anexo conta com apenas um eixo de parede sólida, para instalação da infraestrutura necessária do gourmet, criação de um lavabo externo e resguardo do espaço de sauna. O restante da construção é totalmente permeável, com amplo uso de brises de madeira, os quais não criam uma fronteira entre interior e exterior, ao contrário, funcionam como mero obstáculo visual, garantindo a total percepção do clima externo.
O desenho do anexo reiterou, nesses termos, a intenção do projeto como um todo: dar à luz a um idílio bucólico, a partir de um sopro de originalidade. Conceber um reduto de paz e bem-estar em meio aos tempos tormentosos que vivemos durante a pandemia, mas oferecer também espaço para a reunião de entes queridos, em um porvir mais leve – buscando sempre a excelência de um projeto atemporal, que possa atravessar os anos e alcançar a maturidade sem perder o vigor de sua proposta funcional e estética.
